Serralves: Arte de intervenção em destaque para 2010

Com o centenário da República Portuguesa como pano de fundo, o Museu de Serralves dedica, em Novembro, uma exposição à arte de intervenção cívica e política. “Às Artes Cidadãos!” apresenta-se como um exercício crítico sobre a ligação entre a referência política e a arte contemporânea. João Fernandes, director do Museu, explica, em conferência de imprensa, que a exposição vai reunir obras de arte que fazem “referência ao activismo político”, modos de “afirmar a cidadania pela arte”.

Antes disso, a nova temporada de Serralves estreia-se em Março, com o regresso de Lourdes Castro “aos públicos”, com um “trabalho particularmente mágico”, salienta João Fernandes. A exposição irá reunir pela primeira vez os trabalhos de Lourdes Castro e de Manuel Zimbro, companheiros e colaboradores há mais de três décadas. Um dos trabalhos que mais notoriedade deu a Lourdes Castro foi o “Teatro de Sombras”, tendo percorrido vários museus na década de 70.

Teatro de Sombras de Lourdes Castro

Ainda em Março, vai ser inaugurada a obra da norte-americana Dara Birnbaum, uma das primeiras artistas a assumir a televisão na produção artística. Com um enorme sentido crítico sobre a sociedade e a política, Dara é um dos “nomes históricos” desta programação, embora algo “desconhecida do público português”, na opinião do director do Museu. Birnbaum ficou conhecida pelo seu vídeo-clip “Wonder Woman”, de 1979.

Wonder Woman (1979) - Dara Birnbaum

A vídeo-artista Grazia Toderi e a pintora Marlene Dumas são os grandes nomes escolhidos por Serralves para o Verão.

Artes Performativas recordam Bausch e Cunningham

O ciclo Sabor do Cinema, no habitual registo de projecção-conversa, regressa no final deste mês e termina em Fevereiro. Paralelamente a este ciclo, Cédric Andrieux, antigo bailarino da Merce Cunningham Dance Company, vai marcar presença em Serralves, num espectáculo autobiográfico.

Documente-se!”, sob o mote “Sentidos do Reconhecimento”, irá ter a sua terceira edição durante Abril e Maio e vai abranger as áreas da música, dança, teatro, instalação, cinema, debates e conferências.

Na música, destaca-se a presença dos Mono, banda de rock instrumental japonesa, de regresso ao Porto seis anos depois. O concerto tem lugar no Auditório de Serralves a 10 de Março e resulta da parceria entre Serralves e a promotora AmplificaSom. A 19.ª edição do Jazz no Parque recebe, em Julho, Vijay Iyer Trio, Bernardo Sassetti Trio com Perico Sambeat e Contact.

Também já marcadas estão as habituais Festa do Ambiente, Festa do Outono, Natal em Serralves e os festivais TRAMA – Festival de Artes Performativas (em Outubro) e Serralves em Festa (em Junho), que este ano se vai alargar fora dos muros de Serralves.

Sara Santos Silva

Fantasporto celebra 30 anos de cinema fantástico

Nesta época natalícia o presente que o Fantasporto tem para oferecer é o anúncio dos filmes seleccionados, tanto a nível de competição, como das diversas retrospectivas e homenagens que vão encher o Rivoli – Teatro Municipal de boas surpresas desde de 22 de Fevereiro e até 7 de Março de 2010.


A 30ª edição do Festival Internacional de Cinema do Porto – Fantasporto 2010 garante assim, de novo, um grande festival com os melhores filmes das áreas do fantástico, asiáticos e de autor, com o regresso ao Porto de realizadores agora consagrados, descobertos e já premiados no festival ao longo dos anos. Fazer reviver o espírito de um percurso de 30 anos de Fantas é também um conceito claro da selecção de filmes para esta nova edição do Fantasporto

Na sessão de abertura oficial do Fantasporto 2010, marcada para o dia 26 de Fevereiro, no Grande Auditório do Rivoli, teremos a estreia de “Solomon Kane”, uma das superproduções do ano. Produzido por Samuel Hadida e dirigido por Michael J. Basset (realizador de “Deathwatch” já exibido no Fantasporto) é inspirado num livro de Robert E. Howard, o criador dos universos de “Sword and Sorcery” como “Krull” e “Red Sonja”. Uma extraordinária aventura num universo de imaginação, onde um herói vende a alma ao Diabo, e como penitência pelos seus pecados tem de salvar o reino de seu pai.

Depois de um universo demoníaco, nada melhor que outra proposta do fantástico, para o encerramento do certame, “The Crazies”. Em 1973 George A. Romero, aterrorizou os espectadores com um dos filmes mais marcantes do cinema de terror “A Noite dos Mortos Vivos”. 40 anos depois, o realizador de “Sahara”, Breck Eisner junta Penélope Cruz e Mathhew McConaughey. Breck Eisner, que nesta altura está a refazer “Flash Gordon”, homenageia como deve ser George Romero e os seus “Zombies”, agora um virus mortal.


A rechear um programa de luxo da Secção Oficial de Cinema Fantástico, e estas são apenas algumas das propostas da competição de cinema fantástico, convém não esquecer a incursão do multipremiado no Fantas, Vincenzo Natali, na clonagem com “Splice”. De volta estarão também Jaume Balagueró e Paco Plaza que retomam a “niña” Medeiros em “Rec 2”. Regresso também de Chan-Wook Park, o nosso “Old Boy” com um dos êxitos do último Festival de Cannes, “Thrist”, no qual um padre se deixa envolver por uma sua paroquiana. Deataque também para a segunda parte de “The Descent” de  Jon Harris, o argumentista do êxito do último Fantas que foi “Eden Lake”, onde finalmente se esclarece o mistério que se esconde no mundo subterrâneo.

Na Semana dos Realizadores, sob a égide de Manoel de Oliveira, patrono da Semana, encontramos filmes tão significativos como o Prémio do Júri do Festival de Cinema de Cannes, “Fish Tank” de Andrea Arnold. Uma visao desencantada sobre o mundo sub urbano londrino e os seus estranhos personagens. Do outro lado do atlântico poderemos ver, “Dolan’s Cadillac”, uma história de vingança na fronteira tórrida dos Estados Unidos da América com o México, onde um herói solitário afronta o rei do tráfico de mulheres. De outras latitudes, “The Time That Remains” do conceituado cineasta israelita Elia Suleiman, uma das grandes surpresas da edição 2009 de Cannes.


O Oriente continua a dar cartas no domínio da criatividade em cinema. A selecção deste ano é o espelho dessa variedade temática. Desde a divertida comédia de terror “Vampire Girl Vs Frankenstein Girl” ao drama futurista de “Air Doll” onde uma boneca insuflável ganha vida, para felicidade do seu dono, passando pelo mais recente filme de Shynia Tsukamoto, presente em Veneza – “Tetsuo – The Bullet Man” ou a verdadeira loucura visual que é “Robot Gueisha”.

RETROSPECTIVA CINEMA E ROBÓTICA
O 30º Fantas dedica os seus primeiros dias a uma das áreas mais desconhecidas da produção cinematográfica, aproveitando ainda o facto de Portugal ser um dos países europeus com maior prestígio neste campo, a Robótica. Num programa comissariado pelo Prof. Eduardo Silva, do Laboratório de Sistemas Autónomos do Instituto Superior de Engenharia do Porto e a Sociedade Portuguesa de Robótica, o Fantasporto apresenta uma nova e espectacular visão desta área num cruzamento do Conhecimento e das Artes no qual participarão grandes personalidades sobretudo do Mundo Científico nacional e internacional. Este programa será acompanhado pela exibição de um mini ciclo de cinema e pela amostragem de diversos filmes técnicos, incluindo igualmente mesas redondas, workshops e diversas demonstrações.

WORKSHOP SFX
São 30 anos de Fantas e não podemos ficar por menos. Dois dos maiores especialistas em efeitos especiais, David Marti (Óscar Melhor Caracterização em 2007 por “O Labirinto do Fauno”) e Colin Arthur (“2001 – Odisseia no Espaço”) vêm ao Porto transmitir aos fãs a sua experiência. Dois workshops onde serão revelados as mais recentes técnicas de maquilhagem e de efeitos especiais por dois conhecidos mestres da material. Uma oportunidade única para os jovens criadores de abrirem os horizontes sobre uma das principais componentes do cinema e do fantástico em particular.

HOMENAGEM AO CINEMA FRANCÊS
100 anos de história, o cinema francês tem sido a fonte inspiradora para os mais variados géneros da Sétima Arte. Nos seus 30 anos o Fantasporto homenageia o melhor do cinema francês em vertentes tão diversas como o conto de fadas, a ficção científica, o surreal, a “nouvelle vague” ou o cinema de animação. De Godard a Besson, de Renoir a Resnais, uma panorâmica do grande cinema francês num programa oficial organizado em conjunto com o Consulado de França, Embaixada e Unifrance.

RETROSPECTIVA GALVÃO TELES
O produtor e realizador Luís Galvão Teles é o homenageado português desta edição do Fantasporto. Depois de José Fonseca e Costa no ano passado ou de Fernando Lopes há dois anos, o Fantas 2010 olha o trabalho de um dos mais activos cineastas e produtores portugueses, com uma selecção de filmes da responsabilidade do próprio cineasta. Destacam-se o mítico “A Confederação”, o êxito que foi “Elas” ou o fantástico “Dot.com” não esquecendo o seu “Retrato de Família”.
Muito mais haveria para dizer deste Fantas 30 Anos. Mas esta é, de facto, a nossa prenda de Natal…um cheirinho de um programa que faz do Festival Internacional de Cinema do Porto o “Leading Festival” de Portugal e um dos 20 “maiores festivais do Mundo, segundo a bíblia do showbizz a “Variety”.

Por último uma referência para o Comité de Honra deste evento, presidido por sua Exa o Presidente da República, secundado pelo Exmo Sr. Primeiro Ministro, de entre mais de cinquenta personalidades ligadas à politica, à vida empresarial e amigos, de longa data, do Festival.

FeministizARTE – Primeiro festival de arte feminista decorre em Braga

O Núcleo de Braga da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta – vai trazer a arte feminista à cidade. De 27 a 29 de Novembro de 2009, Braga será ponto de encontro para diversas expressões artísticas, num projecto pioneiro a nível nacional.


Neste sentido, o núcleo dispôs-se a reunir, no Museu Regional de Arqueologia Dom Diogo de Sousa, no Museu Nogueira da Silva e na Torre de Menagem e no Auditório Adelina Caravana do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, produtos artísticos de jovens criadores nacionais e internacionais das mais diversas áreas, relacionados com as temáticas feministas.

O FeministizARTE – Festival de Arte Feminista englobará exposições permanentes de livre acesso, contando com as participações de Ana Pereira, André Alves, Carla Cruz, Cristiana Miranda, Maciel Cardeira, Maria Lusitano Santos, Nádia Duvall, Poderiu, Renato Roque, Rosa Vaz, Suspiria Franklyn; e, apresentações pontuais com bilheteira, no auditório principal da Escola de Música Calouste Gulbenkian, de AbztraQt Sir Q, Carla Cruz, GATA (Grupo de Activismo e Transformação pela Arte), Flávio Rodrigues, Micaela Maia e Teresa Vila Verde.

A par destas, está agendada, para dia 28 de Novembro, uma tertúlia sobre Arte e Feminismos, no Museu Nogueira da Silva, com as presenças de Ana Gabriela Macedo, Ana Paula Canotilho, Angélica Lima Cruz, Cristiana Pena, Maria José Magalhães.

Para acompanhar esta iniciativa visite o blog: http://feministizarte.wordpress.com/. Neste espaço poderá encontrar o programa do festival, as artistas, os locais onde decorrerão as actividades, bem como outras informações de relevo para que possa ficar a conhecer melhor esta iniciativa.

Tim Burton MoMA Spot

“Pensar o Museu” em Serralves

Nos próximos dias 26, 27 e 28, Serralves organiza a Conferência Internacional Pensar o Museu. Na iniciativa irão estar presentes especialistas internacionais que vão proporcionar um debate crítico sobre a importância e o futuro da Arte e dos Museus na sociedade actual.

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Foto: Sara Santos Silva

O programa da conferência é o seguinte:

 

26 Novembro (Qui), 21h00

O que podemos esperar da arte no século XXI?

Por Hal Foster, Professor de Arte e Arqueologia, Universidade de Princeton.

Apresentação por Maria Teresa Cruz, docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa.

Hal Foster é Professor de Arte e Arqueologia na Universidade de Princeton. Lecciona arte moderna e contemporânea e teoria da arte em diversos cursos e seminários; é docente nos programas de Média e Modernidade e Estudos Culturais, e também na Escola de Arquitectura. Entre as suas publicações recentes destacam-se: “Art Since 1900” (2005), em co-autoria com Yve-Alain Bois, Benjamin Buchloh e Rosalind Krauss; “Prosthetic Gods” (2004); “Design and Crime” (2002). Actualmente está a preparar um livro sobre cultura pop. Escreve regularmente para as publicações October, Artforum, The London Review of Books, The Nation e The New Left Review.

 

27 Novembro (Sex), 21h00

Qual a função dos museus de arte contemporânea?

Por Boris Groys, Professor de Estudos Russos e Eslávicos, Universidade de Nova Iorque.

Apresentação por António Guerreiro, Ensaísta e crítico literário do semanário Expresso.

Boris Groys é Professor de Estudos Russos e Eslávicos na Universidade de Nova Iorque (NYU) e Professor de filosofia e teoria da arte na Academia de Design em Karlsruhe. Groys é filósofo, crítico de arte e teórico dos media, especialista nas vanguardas russas e em arte e literatura pós-moderna nos últimos anos da União Soviética. A sua obra convoca a tradição do pós-estruturalismo francês e da filosofia moderna russa. Entre os seus livros recentes destacam-se: “Art Power” (2008); “Ilya Kabakov. The Man Who Flew into Space from his Apartment” (2006); “Under Suspicion: A Phenomenology of the Media” (2000).

 

28 Novembro (Sáb),  21h00

Serão os museus instrumentos ao serviço da indústria da cultura?

Por Benjamin Buchloh, Professor de Arte Moderna, Universidade de Harvard.

Apresentação por Chus Martinez, Curadora do MACBA, Museu de Arte Contemporânea de Barcelona.

Benjamin Buchloh é Professor de Arte Moderna na Universidade de Harvard desde 2006. Buchloh tem investigado as relações entre as primeiras vanguardas do século 20 e as neo-vanguardas do pós-guerra, bem como a interacção entre práticas artísticas europeias e americanas nos mesmos períodos. Os seus principais interesses teóricos e metodológicos relacionam-se com a teoria crítica da Escola de Frankfurt. Entre os seus livros recentes incluem-se: “Gerhard Richter: Large Abstracts” (2009); “Art Since 1900” (2005) em co-autoria com Yve-Alain Bois, Hal Foster e Rosalind Krauss; “Neo-Avantgarde and Culture Industry” (2003). É co-director da revista October.

Bilhetes:

5 Euros por sessão, com os seguintes descontos:

Maiores de 65 anos e Estudantes: 50%

Amigos de Serralves:

– Amigo Empresa e Amigo Benfeitor: 50%

– Amigo Individual e Amigo Família: 10%

STFU Porto: Uma alternativa ao mainstream

O STFU (Shut The Fuck Up), festival itinirante de música electrónica/experimental e de artes visuais, começou em Inglaterra, mas já vai na terceira edição no Porto. A Fábrica de Som acolhe, assim, durante três dias, a partir do dia 30 de Abril, um colectivo de músicos e artistas visuais que têm a Internet como ponto comum.

Desde a música electrónica, experimental às sonoridades mais ambientais e cinemáticas, passando ainda pela fotografia e pela video art, o festival pretende sair dos trâmites mais habituais. O bilhete diário é de 5euros e para os três dias de 10euros.

Sara Santos Silva

MySpace do STFU Porto

Nine Inch Nails em Paredes de Coura

Ao que tudo indica…

Amanhã veremos. Se estiver certa, paguem-me um café 😉

A estreia dos londrinos The Big Pink

“Velvet” é o álbum de estreia do duo londrino The Big Pink. É lançado apenas dia 20 deste mês, mas o single já tem videoclip realizado por Bob Hawkins.

Ponte das Barcas: o que resiste 200 anos depois?

Há 200 anos, a ameaça das tropas napoleónicas precipitou a maior tragédia da história do Porto. Hoje em dia, restam manifestações de religiosidade popular nas “Alminhas”.

Comemora-se este fim-de-semana – com direito a presença do presidente da República e às cerimónias de protocolo – aquele que é um dos episódios mais marcantes da história da cidade do Porto. Para os que não conhecem a história da Ponte das Barcas, fica uma primeira achega. Foi numa quarta-feira “negra”, a 29 de Março de 1809, durante as segundas invasões francesas, que se instalou o pânico no Porto, levando militares e civis a fugir pela Ponte das Barcas, que acabaria por ceder e colapsar nas águas do rio Douro.

Não se sabe ao certo quantos pereceram neste episódio fatídico. No entanto, há relatos de que tenham morrido afogadas cerca de quatro mil pessoas, incluindo mulheres e crianças. O historiador do Porto Germano Silva assevera que foi a “maior catástrofe que houve no Porto desde sempre”. O facto de terem morrido centenas de inocentes, pessoas que apenas queriam fugir à guerra, deixou uma marca trágica na memória da cidade. “Uma mortandade muito grande”, descreve Germano Silva.

Sob o comando do marechal Soult, as tropas de Napoleão entram na cidade. Germano Silva, afirma que “as defesas eram muito frágeis”. Convicção corroborada por Júlio Couto, que relata ao JPN que “a defesa do Porto tinha sido perfeitamente inócua”.

O Bispo do Porto, D. António de S. José e Castro, que na altura representava a autoridade, assumindo o cargo de comandante militar da defesa da cidade, partiu no dia 28 para a serra do Pilar. Abençoou as tropas e disse que por uma razão de estratégia ia para o outro lado do rio. Germano Silva acredita que se tenha apenas escudado lá, “para salvar a pele”. Da mesma opinião é Júlio Couto, que caracteriza o bispo como “inepto” a dirigir.

Uma história com várias versões

Dois séculos depois, existem diferentes opiniões sobre a razão do desastre. Diz-se que a ponte não terá aguentado a pressão da multidão e que se desfez. Júlio Couto defende exactamente esta versão. O pânico foi tal que quando os franceses chegaram à ribeira já boiavam centenas de corpos no rio Douro.

Por outro lado, há relatos de que alguém teria aberto um alçapão na ponte, para impedir que os franceses a atravessassem. Sérgio Veludo, docente na Escola Superior de Educação do IPP e especialista em história militar, considera esta versão mais plausível, pelo menos a nível militar. Assim, poderiam ter sido “os sapadores militares portugueses” a retirar “pranchões da ponte para impedir a passagem das tropas francesas para o sul do Douro”, para obstruir o avanço do inimigo.

Independentemente da versão mais acertada, a verdade é que algo mudou no Porto que viu ruir a Ponte das Barcas. ” Teve características fortemente traumáticas para os portuenses”, realça Sérgio Veludo, sobre o dia em que a Invicta deixou de o ser.

De facto histórico a “piedade popular”

A zona da ribeira do Porto é conhecida pela sua tradição religiosa. As “Alminhas da Ponte”, o baixo-relevo em bronze de Teixeira Lopes (pai), em memória dos que morreram no desastre da Ponte das Barcas, é ainda um local de culto para alguns portuenses. O historiador Germano Silva conta que a obra manteve uma recordação emotiva das pessoas que morreram no desastre.

Porém, hoje em dia, e como explica Júlio Couto, com o passar do tempo, as “Alminhas da Ponte” tornaram-se “um facto de piedade popular” e passaram a ser “veneradas como intercessoras junto de Deus”.

“O imaginário popular não tem limite”, declara o historiador do Porto. Opinião partilhada por Júlio Couto: “as pessoas têm a necessidade de um imaginário, a necessidade de que alguém as guie”. Uma simples manifestação de religiosidade popular que 200 anos depois ainda sobrevive, juntamente com a memória da Ponte das Barcas.

Originalmente publicado no JPN

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